Num momento em que a informação se propaga de forma rápida e em massa, é muito importante saber distinguir notícias fidedignas de informações falsas ou crenças sustentadas em superstições. A pandemia que hoje enfrentamos, com o surgimento do novo coronavírus, tem provocado medo e ansiedade, levantando diversas questões. Para tentar dar resposta a algumas perguntas que me têm colocado, decidi aprofundar o meu estudo sobre este tema, nomeadamente sobre a relação entre o exercício físico e a imunidade.
O exercício físico e o coronavírus
Dado o seu aparecimento recente, devo salientar que não encontrei qualquer base científica sobre a relação entre o exercício físico e a doença provocada pelo novo coronavírus (Covid-19).
Não sendo médico nem especialista em doenças infeciosas, procuro, enquanto professor de Educação Física, trabalhar e aconselhar os meus alunos da forma mais responsável possível. Assim, recomendo que todos os que tenham interesse em saber mais sobre a Covid-19 o façam junto de entidades como a Direção-Geral da Saúde.
Para tentarmos perceber a relação entre o exercício físico e o reforço da imunidade, convém primeiro entendermos como funciona o nosso sistema imunitário.
O sistema imunitário humano
De forma muito simples, o sistema imunitário (ou imunológico) tem como função proteger o nosso organismo de elementos externos. Podemos dividi-lo em duas partes, que atuam em sinergia através de mecanismos diferentes: inato e adquirido.
O nosso sistema imunológico inato serve como primeira linha de defesa contra os agentes invasores. É natural (nasce connosco), não específico e tem como função barrar a entrada de micro-organismos no nosso corpo, de várias formas:
- Através de barreiras físicas como a pele e as mucosas;
- Através de barreiras químicas como o pH dos fluidos corporais;
- Pela ação dos fagócitos, glóbulos brancos que ingerem partículas estranhas ou células mortas, ajudando no combate a infeções.
Quando a primeira barreira imunitária falha, é desencadeada a imunidade adquirida, que consiste num processo adaptativo e específico. Neste caso, a exposição a elementos invasores leva certas células a produzirem anticorpos, que ajudam a combater futuras agressões por esses elementos.
Existirá uma relação entre exercício físico e imunidade?
Quando comparadas as funções imunológicas de atletas em repouso com indivíduos sedentários, não há diferenças a nível da imunidade adquirida. Existe, contudo, alguma dificuldade em relacionar nível e função imunológica com infeção e doença.
Alguns dados sugerem uma fragilidade do sistema imunitário após esforços extenuantes, mas apenas na resposta aguda (3 a 72 horas) e dependendo do grau de esforço. Ainda assim, a verdade é que, mesmo nesses períodos de fragilidade, não foram registados índices de infeção respiratória superior mais elevados do que os do grupo de controlo (indivíduos sedentários).
Estudos sobre a influência do exercício físico moderado na imunidade mostram um dado interessante. Uma caminhada acelerada realizada quase diariamente, ao longo de 12 a 15 semanas, reduz para metade o número de dias de doença. Outras publicações, testando a aplicação de protocolos de exercício físico regular e moderado em doentes oncológicos recuperados, revelam uma menor suscetibilidade à doença ou infeção do que no grupo de controlo.
Importa dizer que não encontrei nenhuma revisão sistemática que estudasse esta relação entre exercício físico e imunidade. Mantém-se, no entanto, como uma hipótese bastante válida a ação positiva que a atividade física moderada tem no reforço do sistema imunitário. A ciência não é clara, mas aparentemente existe uma melhoria da resposta imunitária em sujeitos que treinam mais frequentemente.
Poderá a atividade física regular ajudar a enfrentar o coronavírus?
Como já percebermos, ainda é muito cedo para podermos afirmar que a prática de exercício físico possa reforçar a imunidade e ajudar no combate ao coronavírus. Mas o certo é que a prática de exercício físico só trará benefícios. Além de melhorar a resposta imunitária, interfere nos fatores de comorbilidade (presença, na mesma pessoa, de duas ou mais doenças). O sedentarismo, seja em que altura for, está relacionado com o aparecimento de fatores de risco (como diabetes, hipertensão e obesidade) para desenvolver doenças cardiovasculares.
Os relatórios mais recentes da Sociedade Europeia de Cardiologia são muito claros nas suas recomendações:
- Praticar exercício físico moderado entre 3 e 5 vezes por semana;
- Aumentar a atividade física diária;
- Fazer uma alimentação saudável e equilibrada.
Agora que vemos a nossa atividade física reduzida de forma drástica, devido à quarentena e ao isolamento social, uma simples rotina de treino em casa torna-se imprescindível.
Despeço-me, para já ainda à distância, mas ansioso por ajudar-vos a todos pessoalmente num futuro próximo. Mantenham-se seguros, mantenham-se ativos, mantenham-se saudáveis. Continuem a praticar exercício físico e reforcem a vossa imunidade!
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